Tendências disruptivas para os próximos anos

por | out 7, 2019 | Futurismo

Inteligência artificial, ética na robótica, comida impressa e menos startups são apostas de especialistas para tendências disruptivas

A visão futurista na tecnologia de tendências disruptivas envolve pensar adiante, não apenas um, mas vinte anos no futuro – ou mais. Para entender melhor o que nos espera em termos de disrupções na tecnologia, no mercado e na sociedade, o Whow! conversou com alguns especialistas no assunto, que são chamados de futuristas ou estrategistas de Foresight.

Não há uma definição única do que seria o futurismo. De modo geral, é um método de análise dos cenários possíveis para os próximos anos (sejam eles poucos ou muitos anos a frente). Ele leva em conta determinadas técnicas e ferramentas que exploram as muitas possibilidades que nos aguardam. 

Através do futurismo é possível identificar tendências, prever falhas e moldar caminhos melhores, transformando riscos em oportunidades. Pode ser aplicado em todos os contextos, desde grandes indústrias, pequenas empresas, na saúde, na educação ou nas nossas próprias vidas.

Inteligência artificial, ética na robótica, comida impressa e menos startups são apostas de especialistas para o futuro das inovações. Leia abaixo as tendências disruptivas para os próximos anos, segundo dois futuristas brasileiros.

Whow! – Qual é a sua visão sobre as tendências disruptivas para os próximos anos?

Jaqueline Weigel, futurista global, pós-humanista, palestrante, instrutora de liderança exponencial e de foresight no Brasil: Muita gente compra listas prontas de tendência, e eu acho isso um pouco perigoso. Futuristas interpretam sinais de futuro, em diversos tipos de tendências, e eu acho que as pessoas precisam ler sinais mais do que ficar buscando tendências que ninguém sabe na verdade se vão acontecer ou não. Sobre disrupção, a maioria acha que é acidente, mas eu tenho um conceito de que a disrupção é uma inteligência antecipada. Comprovadamente, você pode criar a disrupção do seu segmento, não ficar esperando algo acontecer. 

W! – Você tem algum palpite sobre quais seriam essas tendências disruptivas?

J – Eu acho que uma das grandes tendências disruptivas para o ano que vem é que os negócios comecem a se perguntar o que vai acontecer, e para onde nós vamos depois dessas ondas de inovação acelerada. A gente sabe que, hoje, a inovação acelerada está sendo trocada por inovação de significado, e a gente precisa parar de acelerar, e quebrar tudo, e começar a construir coisas novas.

Uma das grandes tendências, também, para mim, é não ficar mais consertando o que já existe, e sim criar algo novo, um negócio paralelo. Além disso, a gente sabe que no ano que vem vai acontecer algo que já tem sido falado há muito tempo, e que já está aí em algumas empresas: a digitalização trouxe um modelo de negócio mais enxuto; assim, muita gente vai ser convidada a se retirar das empresas, porque uma forma mais inteligente de trabalhar está ocupando espaço, e essa forma exige menos pessoas no dia a dia. Tem um grande banco por aí que está convidando 6.900 pessoas para uma demissão voluntária, e isso já tem a ver com a digitalização desse negócio.

W! – E no campo da tecnologia?

J – Na tecnologia eu não gosto de apontar tendências, porque ela também tem o seu tempo, a sua curva “S”, e eu acho que as pessoas estão imersas demais em tecnologia e não estão vendo o que está por trás dela, que é a grande transformação do mercado, da sociedade, dos negócios e do consumo. Tecnologia é commodity, é só uma ferramenta que está nos possibilitando fazer muita coisa. Sobre o termo “tecnologia disruptiva”, ele não me diz muita coisa. Eu acho que a gente tem grandes tecnologias exponenciais, que entraram em cena e  estão sendo usadas de modo combinado. A Inteligência Artificial, sem dúvidas, é uma grande estrela, mas, para mim, uma das tendências é que a gente recue um pouco e comece a falar mais de ética na inteligência artificial. Está faltando isso, ela não pode correr solta. A gente já tem uns bons sinais sobre isso.

W! – Quais suas apostas para o futuro?

Luiz Candreva, futurista brasileiro, empreendedor e mentor de startups premiado por dois anos consecutivos pela Abstartups:
 A gente já tem um monte de coisa bacana rolando por aí, pois estamos em uma das épocas mais interessantes para se estar vivo. Tem muita gente que acaba vendo isso com um pouco de medo, porque as mudanças são profundas, mas isso não é novo; já aconteceram mudanças de mesma magnitude, ou até mesmo maiores em eras no passado. Acontece que agora a velocidade dessas mudanças é completamente diferente, mais rápidas, aí as pessoas tendem a ser um pouco relutantes com isso. Mas eu vejo isso com um otimismo enorme, e acho que a gente está vivendo uma era incrível. Mas, obviamente, existem muitos desafios pela frente.

W!: Algum palpite para tendências disruptivas no campo dos transportes?

L: Nos transportes temos visto uma revolução bastante poderosa, não só por existirem carros autônomos, mas por isso mudar a dinâmica de como a gente se transporta. No passado a gente transportava pessoas por animais, depois com carros e motores elétricos, mas agora nós seremos, basicamente, transportados sem a necessidade de um humano.

Muito além disso, nós temos desenvolvido tecnologias como o hyperloop, que é uma tecnologia acelerada de tal modo que tem a capacidade de fazer São Paulo-Brasília em 15 minutos. Sem dúvida nenhuma o mercado de aviação local vai ficar um pouco pra trás, vão acabar sofrendo com isso, porque além dessas tecnologias serem muito mais rápidas, vão ser muito mais baratas, quando forem distribuidas. Além de a gente poder se locomover mais rápido, a gente deve mudar a estrutura urbana do planeta, haja visto que as pessoas vão poder morar no meio de uma floresta na Amazônia e trabalhar em São Paulo, ou morar na praia e trabalhar em Cuiabá, por exemplo. Isso mudaria a dinâmica urbana do planeta, que tem sido igual desde a idade média.

W!: E em outros segmentos?

L: A gente também tem a questão da comida impressa, que já está até bem mainstream, está em tudo quanto é revista. É uma questão que muda o processo de distribuição no futuro, ou seja, em vez de ter mercados e hipermercados, as pessoas vão começar a produzir comidas dentro de casa, do mesmo jeito que a gente faz com mídia hoje, em que todo mundo é capaz de distribuir, mas não era uma coisa que acontecia há 15, 20 anos. 

Mas, o que vejo aí que é mais interessante, é entender, por exemplo, que a indústria de embalagens deve diminuir fortemente, porque você não vai mais precisar comprar as coisas no supermercado, então você não precisa de embalagem; as geladeiras devem diminuir também, porque você não tem tantos excedentes, já que não tem que guardar e armazenar tanta coisa em casa. Então, com isso, o consumo de eletricidade deve diminuir.

Diminuindo o consumo de eletricidade, você diminui até a produção de eletricidade, com termoelétricas, que são altamente poluentes. Então, em tese, se tudo ocorrer direitinho, você tem uma diminuição até dos impactos: você para de ter gado, para de derrubar floresta, para de ter emissão de metano, para de ter pecuária da forma que tem hoje, diminui a necessidade de antibióticos na gestão de alimentos; são mercados de trilhões que vão ser impactados.

W!: Como isso se aplica ao Brasil?

L: O Brasil se vê numa posição bastante peculiar, e talvez até ameaçadora, porque o preço da soja vai despencar. Além da soja, a carne, que é um dos nossos grandes produtos de exportação, vai começar a ser impressa, e a maior parte das patentes dela são do Fundo Soberano de Cingapura, que investiu em várias startups de tecnologia espalhadas pelo mundo.

Hoje, a gente tem, no Brasil, a Fazenda do Futuro, mas que tem capital estrangeiro também. Carne é uma coisa que daqui uns 20, 30 anos, no máximo, não teremos mais necessidade de produzir, então não vamos mais precisar de pasto, água e antibiótico com essas finalidades. Tudo o que o Brasil tem de vantagem por conta do solo vai se perder e, com isso, todos os grãos que são utilizados na alimentação do gado também vão ficar disponíveis no mercado, fazendo com que os preços despenquem.

É um futuro em que o Brasil baseado em agropecuária tende a perder muito. 

Acho muito fascinante como a impressão 3D de comida pode disromper uma indústria inteira, criando um monte de outras quebras menores que vão impactar várias indústrias diferentes e, no nosso caso, impactar a economia e o país. 

W!: E quanto ao futuro dos negócios e das startups?

L: O que enxergo é que a era das startups, seja factualmente ou virtualmente, acabou. Há taxas de juros negativa na maioria dos países do ocidente, e os investimentos de venture catalyst estão começando a cair. Você vê a IPO do WeWork cancelado, o Uber indo meio “mal das pernas” etc, então, a verdade é que essa era de startups, como foi desenhada, terminou. 

Outra razão é de as empresas grandes se tocaram. Lá atrás, as startups conseguiram permear por pequenas brechas que haviam dentro do todo, que permitiam que novos negócios crescessem em cima dos tradicionais. Hoje isso já não acontece mais, porque a maioria das marcas se tocou. Em breve essas empresas estarão municiadas com tudo que uma startup não tem, mas também com esse novo modelo mental. Muito provavelmente vamos ter venture builders, ou coisas que se assemelham à startups aparecendo dentro das empresas. As empresas com flexibilidade para contratação, e abrindo as portas para contratar uma série de pessoas para poder criar as coisas lá dentro, ou seja, para poder criar novidades dentro das estruturas das empresas, como já acontece no Google, na Apple e na Amazon – que, não por acaso, são as maiores empresas do planeta.

W! – Isso significa que as startups vão deixar de existir?

L: Isso não quer dizer que vão sumir todas as startups, ou que o empreendedorismo digital vai desaparecer, mas que vai deixar de existir nessa proeminência que existe hoje. Vai diminuir sensivelmente o número de startups aparecendo, e vai começar a ter muita coisa aparecendo dentro das corporações muitas vezes até sem um viés de lucro, mas sim de impacto.

As pessoas querem ter esse desejo de impactar, e acho que é por aí que vai acontecer e acho que existe também uma grande força geradora para negócios geradores de caixa, uma coisa cíclica pra gente voltar para esses negócios.

Então, um futuro com menos startups, mas com empresas mais conectadas e mais estabelecidas em relação a esse mindset mais interessante.

W!: Na sua opinião, qual será a próxima grande onda?

L: A próxima grande onda, ao meu ver, por incrível que pareça, é essa ideia de futurismo. Esse é o próximo grande play, e é o que vem pela frente. 

Escrito por Carolina Cozer

Publicado originalmente em Whow!

 

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