Jaqueline Weigel, 15/05/2025
Os temas do futuro estão em tudo. Importante separar temas que formam a tapeçaria moderna e nos ajudam a explorar o futuro da disciplina que estuda e explora futuros alternativos.
#Foresight não é sobre previsão, Inteligência Artificial, inovação. É uma arte, que usam métodos robustos de mapeamento de sinais de mudança e de exploração de possibilidades plurais de futuros. Sim, futuroS, no plural.
A distinção entre Estudos de Futuros e Foresight é importante, e preparar-se para múltiplos futuros é central, mas ainda amplamente mal compreendido.
Estudos de Futuros (Futures Studies) surgiram como uma disciplina transdisciplinar voltada à exploração sistemática de possibilidades futuras, baseada em metodologias que integram análise de tendências, incertezas, sinais fracos, forças motrizes e cenários alternativos.
Já o Foresight é a aplicação prática dessas abordagens para orientar decisões estratégicas no presente. Ambos se distanciam de qualquer tentativa de prever o futuro de forma determinista — e se concentram na capacidade de imaginar e construir futuros desejáveis. Saiba mais
O cenário global: avanços e sofisticação
Globalmente, os Estudos de Futuros vêm ganhando tração com instituições como a UNESCO, OECD, ONU, Institute for the Future (IFTF), Metafuture, Nesta UK, FFRC de Turku, Dubai Future Foundation, entre outras. Países como Finlândia, Singapura, Coreia do Sul, Emirados Árabes e Austrália integram Foresight a políticas públicas, educação e inovação.
Esses centros valorizam o uso rigoroso de métodos como:
• Cenários exploratórios e normativos
• Análise Causal em camadas (CLA, de Inayatullah)
• Modelos de decisão e backcasting
• Delphi, análise de redes, e futuros emergentes
• Enviromental e Horizon Scanning
• Futures Wheel, Tree Horizon, etc.
Nesses ecossistemas, Foresight não é show de tendências, nem ferramenta de marketing. Éalfabetização de futuros (Futures Literacy) — uma competência estratégica que amplia a liberdade de imaginar e agir. Importante também saber o que NÃO É Futures Literacy, que por aqui boutiques famosas vem usando de forma inapropriada em suas narrativas.
O cenário brasileiro: potencial inexplorado e desvios preocupantes
No Brasil, apesar de avanços pontuais, ainda vivemos um cenário fragmentado, superficial e por vezes antiético.A W Futurismo, referência no assunto no Brasil.
Problemas recorrentes incluem:
• Confusão entre “tendências” e “futuros”: Muitos eventos ou cursos sobre “futuro” reduzem-se à repetição de buzzwords tecnológicas — IA, blockchain, metaverso — sem qualquer método de análise crítica.
• Profissionais despreparados: Influenciadores e “gurus” autodeclarados futuristas propagam discursos rasos, com zero base metodológica. Isso compromete a credibilidade do campo.
• Cursos com abordagens distorcidas: Proliferam formações que usam termos como “foresight”, “futuring” e “futures thinking” sem qualquer referência aos marcos teóricos fundadores (Inayatullah, Milojević, Schultz, Dator, Masini, Malaska, Bishop, Ramos etc.).
• Associações e instituições com práticas antiéticas: Algumas entidades se dizem representantes do campo, mas operam com conflitos de interesse, apropriação indevida de conteúdos e exclusão sistemática de vozes relevantes.
Foresight não é show: é educação estratégica
A banalização do campo se torna um risco quando Foresight vira palco para “espetáculos” de tendências. Diferentemente de shows impressionantes, o verdadeiroForesight:
• Forma pessoas críticas, não consumidores de visões prontas;
• Conecta dimensões éticas, culturais, ambientais e políticas às decisões;
• Amplia a capacidade de imaginar o que ainda não existe, mesmo que improvável;
• Exige rigor metodológico e responsabilidade coletiva.
A profissionalização do tema
Foresight cumpre um papel social e estratégico. Regulamentar a profissão de futurista ou Foresight Practitioner talvez não seja o caminho. Melhorar a qualidade da informação e educar o mercado comprador é essencial. Em diversos grupos e comunidades, de Federação a Associação, e as questões éticas e o oportunismo estão sempre presentes, que deixam estas iniciativas bem frágeis no longo prazo.
Profissionais de futuros sem formação, que usam métodos desconhecidos ( autorais e duvidosos) e que não separam os temas da moda da disciplina são perigosos para o mercado local. Conheço futuristas da moda que não conhecem um método sequer, e que se formaram em centros de tecnologia e espaço, ou anunciam formação em lugares que não oferecem formação alguma. Fraudes, como em tantos outros segmentos.
Para melhorar o cenário local, é necessário:
• Reconhecer e valorizar as escolas sérias de pensamento futuro;
• Exigir formações baseadas em métodos reconhecidos internacionalmente. Não se inventa método nem é possível usar receita de bolo para explorar o futuro sempre da mesma forma;
• Respeitar códigos de conduta e ética profissional, com transparência;
• Criar redes colaborativas abertas e não-excludentes;
• Trazer o Foresight para políticas públicas, inovação e educação de forma estruturada.
Foresight como cultura organizacional e cidadã
Mais do que ferramenta de gestão, a W Futurismo acredita que Foresight precisa ser incorporado comocultura— nas empresas, governos e comunidades. Isso exige tempo, humildade e compromisso com o coletivo.
O futuro não é um lugar que se descobre: é um campo que se constrói.
O futuro merece respeito!
Falar de futuros é um ato político, ético e educacional. Reduzi-lo a tendências de mercado é empobrecer seu potencial de transformação. O Brasil tem talentos, mentes críticas e criatividade de sobra para se tornar um polo em Foresight genuíno. Mas isso exige coragem para romper com a superficialidade e compromisso com a profundidade. O futuro não precisa de gurus. Precisa de praticantes preparados, organizações éticas e comunidades que pensem além do agora.
Práticas éticas em Foresight:
• Referência a marcos teóricos reconhecidos (ex: Inayatullah, Schultz, FFRC)
• Clareza conceitual entre Foresight, tendências e previsão
• Inclusão de múltiplas vozes e diversidade de perspectivas
• Uso de métodos críticos, não apenas inspiração
• Transparência na finalidade e uso do Foresight
• Formações com base metodológica e não apenas motivacional
• Crédito adequado a fontes, autores e escolas
• Evita apropriação indevida de conteúdo de terceiros
• Abertura a redes colaborativas e diálogo entre pares
• Conexão com impacto social, ambiental e ético
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