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Jaqueline Weigel , Gazeta do Sul, 28/12/2020
Na última semana do ano deveria ser natural refletirmos sobre a experiência do passado imediato. O que ela trouxe, para que serviu e o que veio nos mostrar. Tenho este hábito, que sei que muito poucos cultivam: o de me distanciar do ruído para mergulhar na observação profunda dos eventos e dos possíveis aprendizados. Como estudiosa de neurociência, sei que só nos desenvolvemos assim, não nos distraídos com o que acontece apenas no momento presente, como se a vida fosse uma tragicomédia ou como se fossemos meros marionetes do universo.
O Covid-19 nos ensinou muito e o saldo do ano é positivo. A pandemia confrontou nosso jeito de viver, nossa mania de enrolar a vida com nossas verdades e desculpas tradicionais, que justificam a coleção e fracassos que protagonizamos nos últimos anos.
Durante 2020 vimos quem andará à frente do seu tempo, quem sabe contornar adversidades com rapidez, nutre a inteligência emocional e a criatividade, e quem não tem empatia ou responsabilidade alguma com os demais e com os problemas coletivos: os novos fracassados do mundo.
Alguns estão com a vida muito em dia e rapidamente se acomodaram ao novo cenário, que de certa forma, já era anunciado. Outros, tem resiliência nata, e se adaptaram rapidamente para os novos modelos de vida e trabalho. A maioria, que em breve certamente se tornará minoria, revelou graves patologias sociais, entre elas o vitimismo, a falta de empatia, a baixa responsabilidade com a vida, intolerância, ignorância e estupidez, especialmente quando o assunto é renunciar desejos e prazeres individuais em prol do bem de todo mundo.
Não temos mais como nos esconder. Todas as nossas virtudes e defeitos estarão na mesa transparente do século 21, e teremos que trabalhar para nos encaixar na nova cultura do planeta. Ter coisas deixa de ser o mais importante, viver em torno do próprio umbigo deixa de ser o modo padrão de vida, e todos os dias teremos que demonstrar alto compromisso com a restauração do equilíbrio planetário e da vida em sociedade.
Tempo livre é a moeda mais importante de 2021. Temos poder de escolha e ele exige mudanças no estilo de vida. Mudou a forma como nos alimentamos, vivemos e gastamos, mudaram todos os formatos de trabalho, viagens, festas, e tudo que diz respeito a possibilidade de vida digna para 10 bilhões de pessoas exige que sejamos diferentes.
Podemos viver de forma abundante e minimalista, estar mais perto da natureza, da família, da comida natural. Temos que pagar o preço de nossas escolhas e nos tornarmos capazes de fazer renúncias.
Entenda qual é a sua contribuição pessoal para a vida comunitária, esta é a toada do século 21. É impossível voltar ao que era antes, e seria péssimo se isto acontecesse. Boas vindas ao mundo novo. Reforme-se antes de entrar em 2021, o mundo já é irreconhecível.
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