A transformação pela qual o mundo está passando já não é novidade, mas o que vem após isso? A transformação cultural e comportamental trazida pela era digital, mais do que pela tecnologia, está pautada na expansão de consciência. É isso que afirma a especialista em futuro estratégico, Jaqueline Weigel, da W Futurismo.
Em conversa com o Coexiste.Info, a futurista fala sobre a necessidade de viver o presente sem deixar de pensar o futuro, fala sobre as principais transformações que essa era pós-digital trará, e discorre sobre a nova espécie que deve habitar o planeta dentro dos próximo 30 anos.
Jaqueline Weigel é Futurista Global, Pós-Humanista, estrategista de negócios e liderança e especialista em Foresight e Estudos de Futuros no Brasil.
Formada em Gestão de Pessoas pela Fundação Getúlio Vargas, pesquisa futuros em instituições especializadas no assunto, como o Finland Futures Research Centre, na Finlândia, a Metafuture, na Austrália; e na Singularity University e o MIT Sloan, nos Estados Unidos, e participa de projetos e associações internacionais sobre o tema. A executiva criou, no Brasil, o primeiro hub de estudos do assunto, a W Futurismo.
Confira os principais pontos da conversa que tivemos.
Principais direcionadores da mudança na era digital
Jaqueline Weigel: Eu acho que existe uma quebra radical, uma inversão radical. Está tudo reverso. Antes era muito para mim, e agora é para todos. Era muito comando e controle; agora é democrático. Muito hierarquia e agora é rede. Era muito material e agora é mais holístico. Muito centrado no ganhar coisas, e agora, na verdade, é no distribuir coisas. Era muito centrado em sobrevivência e agora é muito centrado em trabalhar e viver por propósito.
Eu acho que a grande mudança cultural é o fato de haver uma nova espécie começando a habitar o planeta. Humanos, claro. E falo de humanos aumentados em tecnologia, mas também falo de humanos aumentados em nível de consciência. Nível de expansão de entendimento sobre a vida, sobre o planeta, sobre si mesmo.
Pensar o futuro com consciência
Jaqueline: Precisamos ter um pouco mais de horizonte. Estamos muito acostumados a resolver o dia a dia e manter o que existe, ou o que era passado. Precisamos ser mais híbridos, capazes de manter o que ainda temos, mas ir criando o novo em ciclos.
Esse sempre foi o ciclo da vida, mas vejo que pouca gente tem esse mindset pra viver o presente e começar a construir o futuro. Quando falamos em humanidade, planeta, em futuro do mundo, 100 anos não é nada.
O que fazemos hoje afetará as próximas gerações, então precisamos começar a assumir a responsabilidade. Por exemplo, eu ouvi de uma tribo indígena americana que eles tomam decisões pensando em sete gerações pra frente.
Nós, que temos essa cultura tão robusta, tomamos decisões pensando no hoje, no que estamos vivendo. Eu acho que essa é uma chave que precisa mudar. Precisamos assumir a responsabilidade pelos próximos 100 anos do planeta. O que fazemos hoje vai afetar o futuro.
Mudanças na educação e o contexto planetário
Jaqueline: Em relação à educação, eu participo de alguns estudos ligados à Unesco, e compartilho muitas coisas legais.
Eu acho que estudar o futuro hoje equivale a entender como o futuro vindouro vai fazer parte do nosso presente, e qual é o papel de cada um nessa jornada.
Eu vejo que as competências do futuro – e eu não gosto de lista de competências prontas – são muito complexas, pois as verdadeiras competências desse novo humano têm muito a ver com seu estado de integridade, com a sua capacidade de se autoconstruir, se desenvolver, se autogerenciar.
As novas competências estão relacionadas à capacidade de nos relacionarmos com diversas tribos, bem como à capacidade de sermos seres planetários, e não mais local. Um ser planetário pode agir localmente, mas ele precisa pensar no planeta.
Em termos de educação, eu vejo muito debate sobre tecnologia, mas ela é só uma ferramenta. Eu vejo muito debate sobre mudança de modelo, e a mudança vai acontecer ao longo dos anos, quer as pessoas queiram ou não, porque a demanda está muito grande, não funciona mais do jeito que era.
E eu não me preocupo, isso leva um tempo para acontecer, mas eu olho para os seres do velho mundo e para os seres do novo mundo e vejo diferenças incríveis.
As pessoas do novo mundo se autoeducam. Elas buscam informação, têm um senso ético mais apurado, têm conversas mais avançadas sobre um mundo mais sustentável, com ubiquidade pra todo mundo, enfim.
E as pessoas do velho mundo, que ocupavam o cargo de educadores formais, não conseguem entender essa realidade. Na verdade, o professor hoje é o aluno, o mentor hoje é o filho, o adolescente, ele tá vindo ensinar a nós muita coisa.
Novos humanos
Jaqueline: Olhando para um espaço de, talvez, 30 anos, veremos literalmente novos seres habitando o planeta. Talvez os híbridos, usando, sim, inteligência artificial, usando implantes no corpo, mas com uma consciência mais expandida.
E eu acredito que nos próximos 100 anos, teremos uma nova espécie no planeta, que não se compara com o ser humano de hoje, pois será mais aumentado, expandido, consciente.
Ele será mais pleno, mais feliz, mais em comunhão com seu planeta, com menos confusão entre povos. Viverá em um mundo sem fronteiras, sem governo, algo um pouco mais horizontal, planetário. Eu acho que esse ser está começando agora.
Esse novo ser que vai habitar o planeta terá muita humildade, muita comunhão com o universo. Ele sabe que não está no controle, que existem outras coisas, que existem outros planetas, e ele jamais desejará brincar de Deus, ser uma fonte criadora. Acho que o futuro vai dizer.
Expansão de consciência no mundo e o papel da espiritualidade
Jaqueline: Eu comecei a estudar esses assuntos em 1988, e lá era algo mais do tipo “que conversa é essa?”. E foi assim por um bom tempo.
Eu vejo cada vez mais pessoas conectadas nessa busca do sentido e expansão da vida, nessa busca do entendimento do universo. Muitas dessas pessoas já declararam isso, outra ainda de um jeito mais tímido.
No mundo dos negócios eu percebo que isso está chegando de uma forma velada, ainda não tão aberta, pois houve algumas tentativas de espiritualidade nos negócios que não foram bem-sucedidas.
Entretanto, o despertar do planeta é evidente, nunca se viu tanta gente falando de propósito, de levar uma vida com menos, mas que seja mais significativa, com mais cuidado com o outro. Isso é espiritualidade na prática.
O despertar é coletivo. Eu acho que o homem tende a colocar tudo numa linguagem muito mental, muito pragmática, e isso daqui pra frente vai ser cada vez mais difícil.
A ciência é humana, e ela precisa andar junto da espiritualidade.
A espiritualidade não precisa de comprovação científica humana, quem precisa disso é o homem, que tende a apostar sempre no ver pra crer, e agora, na verdade, você precisa crer pra ver.
Quem acredita e quem nutre começará a enxergar o que está acontecendo no mundo. A mente humana é muito limitada, é cheia de armadilha, cheia de visão curta, e a maioria das pessoas ainda precisa de tudo muito tangível, e a gente precisa deixar essa mágica entrar na nossa vida.
O ar não é tangível, mas respiramos todo dia. Até então ninguém falava de emoção, e hoje todo mundo fala, inclusive na escola. Eu acho que isso faz parte do evoluir.
Estamos numa era antroposófica de expansão de consciência, e eu acho que precisamos fluir junto com o mundo. Tem muita gente já acordada pra isso, e nós estamos começando a entender. Muitos demorarão um pouco mais, mas o despertar é para todos.
A vida em abundância
Jaqueline: O livro de Abundância, de Peter Diamonds, da Singularity University, traz uma chave para as pessoas de como elas podem fluir com a vida em vez de ficar tendo medo de tudo.
Nosso planeta é abundante, nós temos aqui tudo de que precisamos e os animais vivem de um jeito mais inteligente do que o homem, que entrou nesse paradigma da escassez, e competiu, guardou, se preocupou em ter coisas, e conseguiu um grande fracasso com isso.
Possuir coisas hoje é muito efêmero. As pessoas precisam, urgentemente, desligar os botões do medo e ligar os botões da esperança, da fé, do positivismo.
Só que nós somos treinados para ter medo e a única forma que existe de viver a abundância é por meio da integração com o universo, do entendimento de como ele funciona, da espiritualização.
Então, pessoas com uma fé construída têm mais facilidade de saltar para a abundância do que pessoas que vivem o medo da falta, que vivem na escassez.
E quando falo de fé construída, não estou falando de religião, estou falando de buscar o sentido da vida, estudar como a Vida funciona. As pessoas que ainda não acreditam, ainda não estudaram como a Vida funciona, mas está tudo disponível para todo mundo entender.
Publicado originalmente em Coexiste.info
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