O arquétipo da próxima década é feminino.
Por Jaqueline Weigel
Segundo Salim Ismail, da Singularity University, o arquétipo da próxima década é feminino, por uma série de razões. Arquétipo não é gênero, lembra Salim. O arquétipo masculino comandou muito bem o mundo capitalista. É competitivo, gosta de tomar riscos, de comandar e controlar. O arquétipo feminino é participativo, nutritivo, cooperativo e vinculado à rede, como os novos modelos de negócio exigem. Sistemas feudais mudam para sistemas democráticos, com poder distribuído de maneira mais uniforme. Empresas, comunidades e religiões foram construídas em cima do modelo hierárquico, que é altamente rejeitado pelos jovens do mundo atual.
O mundo atual é flat, horizontal, igual.
A segunda causa de suicídio entre jovens de 15 a 29 anos é a rejeição ao mundo capitalista, que convenhamos, se tornou insuportável em tempos de propósito. A mudança deste arquétipo está nos levando a um alto nível de stress. Não se trata de empoderar as mulheres apenas, ou de colocar mulheres em cargos de liderança, e sim de incorporar igualitariamente o feminino e o masculino que temos dentro de nossa dualidade humana, e em aliança, servir o mundo de maneira diferente.
Na minha opinião, o embate é inútil e desnecessário. Não há arquétipo melhor ou pior, assim como não há gênero mais ou menos capaz. Na luta da igualdade de classes, sabemos que mulheres gastam mais tempo em estudo e em desenvolvimento, e que dedicam no mínimo 25 horas do mês para trabalho invisível e não remunerado da casa e ainda assim ganham menos que os homens. Sua capacidade foi extremamente desvalorizada até agora, no board das empresas por exemplo. Hoje, elas já ocupam posições que antes eram destinadas à tribos masculinas apenas. CEOs deveriam contratar mais mulheres para suas diretorias para aprender ou deixar aflorar o arquétipo predominante nos próximos anos. Mas esta não é uma discussão de gênero e sim de sabedoria de negócios.
Homens sob stress lutam ou voam. Mulheres fazem amizade ou cuidam, diz Salim. Homens são bons em gerenciar escassez, destruir e reinventar. Mulheres lidam melhor com o sistema, com a abundância, módulo que entramos agora na era digital. Abundância não é acumular riquezas e o oposto da teoria da escassez que diz que não tem para todo mundo. O paradigma da abundância diz que tem para todo mundo, então podemos compartilhar, cobrar barato, dar acesso, portanto, tem para todo mundo. Mulheres compartilham, homens retêm. É natureza. Não há nada de errado com isto.
Os organismos de negócio precisam considerar incorporar o arquétipo feminino, ou seja, o jeito feminino de cuidar de um sistema, que agora passa de gestão para curadoria. Líderes serão grandes gerentes de comunidade, que garantem que todos se relacionam e que o organismo corporativo anda com fluidez em direção a seu propósito. Metas apenas vêm do modo de operar mentais, clássicos e predominante no arquétipo masculino. Daqui para frente precisamos de propósito, de tecnologia, de pessoas e só então, como recompensa, atingiremos as metas do negócio. Na verdade, sempre foi assim, só que o que criamos funcionou até agora, não mais daqui para frente.
É inútil gastar fortunas em team building, treinamento, eventos lúdicos, revisão de processo, melhoria contínua. Estas são teorias do mundo velho. O que precisa mudar imediatamente é o modelo mental de quem comanda negócios. “A pauta é muito mais complexa: saberão os homens assumir seu arquétipo feminino e o colocar em ação na próxima década? “diz Ismail. Grande desafio para todos nós.
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