Futuristas aprendem a entender o mundo em transformação

por | ago 2, 2018 | Futurismo

Os chamados futuristas têm se popularizado no Brasil e no mundo. São pesquisadores que estudam mega tendências e mudanças tecnológicas, políticas, ambientais, comportamentais e demográficas que vêm acontecendo para tentar entender como será o futuro, como isso tudo impactará a sociedade e os negócios e o que é possível fazer hoje para encarar a realidade que está por vir. (Leia sobre O Renascimento Cultural do Planeta neste artigo)

Apesar de o tema estar mais em evidência atualmente, a profissão não é nova. O primeiro curso de mestrado para formação de futuristas foi criado na década de 70 na Universidade de Houston, nos Estados Unidos.

“Com a queda do muro de Berlim, o colapso da União Soviética, a bolha da internet e o 11 de setembro, as pessoas começaram a ver que o futuro era mais difícil de lidar do que se pensava até então. Todas as disrupções que ocorreram, e continuam a acontecer, mostraram que não adiantava ter só algumas planilhas para entender o futuro”, diz o sociólogo Peter Bishop, coordenador desde 1983 do Master of Science in Foresight, da Universidade de Houston. “As pessoas começaram a ficar realmente preocupadas com o que estava por vir, e a área de estudos do futuro ficou mais sustentável e acabou se disseminando.”

Cerca de 500 alunos já passaram pelo mestrado coordenado por Bishop, sendo que hoje há aproximadamente 40 estudantes matriculados. É possível concluir o programa em dois anos quando cursado em tempo integral ou em até cinco anos em jornada parcial.

Para o acadêmico, a área de estudos do futuro vem crescendo, mas vagarosamente. “É um crescimento lento, mas sustentável, porque as pessoas perceberam que as disrupções não acabaram, haverá mais e mais, e ninguém sabe como lidar com elas.”

O mestrado da Universidade de Houston prepara os alunos para que trabalhem como futuristas, mas Bishop afirma que nem todos seguem a carreira. Alguns permanecem em suas áreas de atuação e usam as técnicas e ferramentas aprendidas para entender o futuro dos setores em que atuam.

Para Bishop, nem todo mundo precisa ter um diploma em futurismo para saber lidar com o futuro. “Você não precisa, por exemplo, ser um contador para saber como economizar dinheiro para a educação de seus filhos ou a aposentadoria”, compara o acadêmico.

O que Bishop defende é a inserção de disciplinas de futurismo na formação geral universitária, e é justamente sobre isso a palestra dele no evento “A Gestão do Futuro”, que acontece hoje e amanhã em São Paulo e terá palestras virtuais de mais de 10 futuristas de todo o mundo.

O título da apresentação de Bishop é “Ensinar o futuro é tão importante quanto ensinar história”. É isso, inclusive, que o acadêmico vem disseminando na Teach the Future, uma organização sem fins lucrativos fundada por ele. “Estamos tentando levar uma forma de estudar o futuro para todos ao redor do mundo.

São algumas aulas sobre o tema, e essas pessoas não necessariamente precisam se tornar futuristas, mas elas saberão como pensar crítica e criativamente as mudanças, estarão preparadas para o que virá, e terão algumas das ferramentas e conceitos que permitirão lidar com esse mundo disruptivo”, diz.

A Teach the Future é dirigida a alunos a partir de 13 anos e segue até o nível da graduação. Na visão de Bishop, disciplinas relacionadas aos estudos do futuro deveriam fazer parte da formação geral de todos os cursos universitários. Hoje, segundo ele, apenas uma faculdade no mundo, localizada em Taiwan, exige que seus alunos cursem uma disciplina ligada a futurismo.

Uma outra nos EUA, a Mendoza College of Business, da Universidade de Notre Dame, exige que todos os alunos de pós-graduação da escola de negócios cursem a disciplina “Foresight in Business and Society”. “Para serem os líderes de amanhã, os alunos precisam aprender como identificar os desafios e oportunidades no futuro e desenvolver caminhos para encontrar esses desafios e capitalizar essas oportunidades”, diz o site da escola. (Leia sobre A Educação do Futuro neste artigo)

futuristas

Maior interesse por futurismo faz surgir novos cursos para futuristas

O mercado de trabalho para quem quer trabalhar com futurismo está crescendo e tem ficado melhor. A opinião é da mais antiga futurista brasileira, Rosa Alegria, que fez o Master of Science in Foresight, da Universidade de Houston, no começo dos anos 2000.

Antes disso, Rosa trabalhava como executiva de comunicação em grandes empresas e, aos 40 anos, decidiu que queria fazer algo diferente. Tomou contato com a área de estudos do futuro e, depois de estudar nos Estados Unidos, passou a trabalhar com isso no Brasil.

Ela é uma das fundadoras do NEF (Núcleo de Estudos do Futuro) da PUC-SP e hoje atua como palestrante, consultora e professora. “Vejo maior interesse no assunto porque as mudanças que vêm ocorrendo são rápidas e trazem incerteza e dificuldade de planejar o futuro”, diz.

Rosa afirma que as empresas têm chamado futuristas para trabalhos pontuais, mas ainda não mudaram a gestão para levar em conta uma forma estruturada de pensar o futuro. “Nunca se trabalhou tanto no curto prazo”, enfatiza.

Para quem se interessa pela área, Rosa alerta que não há cursos em profundidade no Brasil, apenas programas introdutórios. Ela mesma ministra um curso intensivo de dois dias chamado “Futurismo Aplicado”. O último aconteceu em junho em São Paulo. “É uma introdução ao tema, que faz os alunos saírem da caixa, reorientarem o olhar e entenderem o que é inovação. Se, a partir daí, a pessoa quiser se aprofundar, precisa ir para o exterior.”

Há mais programas que introduzem o tema no Brasil. Um deles se chama “Friends of Tomorrow”, ministrado pela Perestroika, e outro tem o longo nome “O mundo mudou. Você vai ficar de fora? Futurismo, Inovação, Tecnologia e Disrupção”, ministrado por Daniela Klaiman, formada em futurismo e empreendedorismo pelo TIP – Transdisciplinary Innovation Program, da Universidade de Jerusalém.

A W Future School, de Jaqueline Weigel, também oferece alguns cursos de futurismo. Jaqueline é mais uma profissional que foi para o exterior se especializar.

Depois de uma temporada na Singularity University, que trata de estudos do futuro com foco em tecnologia, ela fez um curso na Universidade de Turku, na Finlândia, que tem uma visão multidisciplinar. “Não adianta ver apenas a tecnologia, pois a discussão é maior, envolve mudanças na sociedade e nos negócios”, diz Jaqueline. “O estudo do futuro tem discussões amplas, incluindo as tecnológicas, mas não só, e dá um método para o executivo agir de fato hoje na empresa.”

No exterior há mais algumas opções para se aprofundar em estudos do futuro. Além do mestrado da Universidade de Houston, dos cursos da Universidade de Turku, na Finlândia, e da Universidade de Jerusalém, Rosa cita como referência na área o Institute for the Future, na Califórnia, a Universidade de Tamkang, em Taiwan, e a Universidade Externado, na Colômbia. “Todas essas escolas têm uma visão holística sobre o futuro e não tratam somente de tecnologia”, diz Rosa.

Globalmente, um dos futuristas mais reconhecidos é Gerd Leonhard. Nascido na Alemanha, atualmente ele mora na Suíça e é dono da The Futures Agency, que emprega cerca de 40 pessoas e atende clientes tão diversos quanto Mastercard, Unilever, WWF e Google.

A trajetória de Leonhard é um pouco diferente. Formado em teologia e música, ele trabalhou como músico profissional – guitarrista, compositor e produtor – por 12 anos, até criar uma startup no setor de entretenimento na década de 90, começo da era da internet. “Nessa experiência tive meus primeiros insights de tecnologia disruptiva, que me levaram a escrever meu primeiro livro”, diz.

A obra a que se refere é “O Futuro da Música”, publicada em 2005 e que deu início à carreira dele como futurista. Hoje, Leonhard viaja o mundo fazendo palestras que abordam perspectivas de futuro em áreas como sociedade, negócios, mídia, tecnologia e comunicações.

Apesar de parecer promissora, a carreira é desafiadora. “É uma profissão difícil”, diz Peter Bishop, coordenador do Master of Science in Foresight, da Universidade de Houston. “Como eu digo para os meus alunos, é uma profissão arriscada, onde é difícil alcançar uma posição de destaque.”

(Artigo publicado originalmente no Valor Econômico)

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