DFF 2025: O Futuro em Construção: Humanidade, Mente e Sociedade na Era da Inteligência Artificial

por | dez 2, 2025 | Cenários, Estudos de Futuros, Futurismo, inovação, liderança, Strategic Foresight, Tendências

A discussão que vai muito além de AI

Reflexões a partir do Dubai Future Fórum 2025 – Jaqueline Weigel

O Dubai Future Fórum consolidou-se como um dos mais importantes encontros globais sobre futuros, trazendo para o centro da conversa não apenas tecnologias emergentes, mas, sobretudo, o sentido de humanidadeem um mundo em profunda transformação.

Ao reunir futuristas, cientistas, urbanistas, economistas, arquitetos, gestores públicos e pensadores de diversas áreas, o fórum ampliou as fronteiras das perguntas fundamentais: o que significa ser humano na era da IA? Como reinventar cidades, economias e sociedades? Que tipo de futuro estamos, de fato, construindo?

O que emergiu desses diálogos foi uma reflexão poderosa sobre a mente, a consciência, a tecnologia, a cidadania, os modelos de desenvolvimento e o papel da juventude. Mais do que respostas, o Dubai Future Forum nos deixou uma bússola ética, filosófica e estratégica.

A Mente na era da IA exige foco, presença e consciência

Na abertura, um convite para ver o que evoluiu do ano passado para agora, e o que será importante nos próximos 12 meses: SUPERFORECASTING, foco profundo para saber o que é importante, todos são experts e ninguém é expert, portanto, estamos nas mesmas descobertas do novo saber, e o que é ser “melhor amigo” em tempos de AI, mostrando como os relacionamentos estão se transformando em nossa era.

Uma das discussões mais provocativas entre neurocientistas trouxe uma afirmação simples e profunda: a mente é aquilo que o cérebro faz. E o cérebro é moldado continuamente pela neuroplasticidade — nossas escolhas, nossos ambientes e nosso foco.

Num mundo de dispersão permanente, onde a IA entrega caminhos rápidos para quase tudo, a atenção tornou-se a habilidade humana mais escassa. Sem foco, afirmaram especialistas, “nos tornamos como plantas expostas ao vento”: reagindo, não criando.

A advertência é clara: antes de usar IA, faça manualmente. Não por nostalgia, mas para preservar a autonomia cognitiva. O risco não é a IA pensar como nós, mas nós deixarmos de pensar por nós.

Assim, a ferramenta mental mais sofisticada permanece sendo a mais ancestral: a meditação, que fortalece presença, autoconsciência e capacidade de escolher — em vez de reagir compulsivamente ao fluxo digital.

A consciência, segundo neurocientistas presentes, é uma confluência entre corpo, mente e ambiente. Não habitamos um cérebro isolado; habitamos um organismo em relação. E, por enquanto, não há consenso sobre se máquinas poderão algum dia replicar essa dinâmica — apesar de nossas ilusões naturais nos levarem a projetar humanidade onde não há.

O que significa ser humano em tempos de IA?

A pergunta mais urgente do século deixa de ser tecnológica para tornar-se existencial: o que significa ser humano quando máquinas fazem quase tudo?

Em contraste com o mundo ocidental, ainda preso a narrativas de risco e escassez (uma marca do discurso do WEF), Dubai posiciona-se como o “novo mundo”, focado em oportunidade, abundância e possibilidades.

Mas entre esses dois paradigmas, algo maior acontece: o avanço da IA está produzindo crises identitárias. Medo de irrelevância, perda de propósito, ansiedade existencial. Não porque máquinas ameaçam substituir pessoas, mas porque não sabemos ainda o que fazer com tanto poder.

A mensagem mais forte: prontidão em IA não significa prontidão para o futuro.

Foresight como disciplina estratégica, não como luxo

#Foresight deve ser útil, não interessante apenas. Governos e organizações enfrentam um dilema: querem resultados exponenciais, mas operam com mentalidades lineares. Por isso, no fórum, Foresight foi apresentado como infraestrutura estratégica, não como tendência ou luxo intelectual. Pudemos assistir como Dubai usa Estudos de Futuros e se antecipa, desenvolvendo alta capacidade cognitiva coletiva entre seus cidadãos

Pilares da maturidade de futuro incluem:

  • Construir fundações institucionais
  • Desenvolver times e ferramentas de cenários
  • Criar “músculos internos” de pensamento antecipatório
  • Educar e preparar toda a sociedade
  • Articular políticas públicas proativas
  • Internalizar narrativas que atraem energia e investimento, e não apenas relatórios técnicos

A advertência mais marcante: consultores oferecem ferramentas, mas a competência real nasce do insight interno, da capacidade de usar, interpretar e integrar o conhecimento ao dia a dia.

Cidades inteligentes e o futuro do pertencimento

Um dos debates mais inspiradores tratou de urbanismo, pertencimento e a vida cotidiana. A tese central: planejar cidades é, acima de tudo, planejar a alma da cidade.

Hoje, cidadãos vivem fragmentados e se desconectam do espaço urbano. A tecnologia sozinha não resolve; é preciso recuperar a experiência humana.

Casos concretos:

  • sistemas de escuta ativa, como o Voice of Dubai – Zero Four, onde qualquer pessoa pode enviar feedback
  • ações imediatas baseadas nesse retorno (como reconfigurar serviços urbanos)
  • integração entre visitante, residente e políticas públicas
  • a ideia de que cidades devem ser ecossistemas vivos e co-criados

A experiência, não a infraestrutura, será o diferencial das cidades do futuro.

Vida além da Terra: a jornada para uma perspectiva cósmica

Cientistas presentes no fórum provocaram uma expansão radical do olhar humano: não sabemos ainda o que é vida fora do nosso planeta — e isso pode ser maravilhoso.

O estudo de mais de 6.000 exoplanetas mostra que não existe outro sistema solar semelhante ao nosso. A pergunta não é apenas “existe vida lá fora?”, mas:

  • O que é a vida?
  • Como ela emerge?
  • Quais formas são possíveis além da biologia que conhecemos?
  • Estamos preparados para redefinir a espécie humana como espécie cósmica?

A ciência está num limiar entre o conhecido e o desconhecido, com dados inéditos e fenômenos que desafiam teorias existentes. O convite é simples: manter a mente aberta. Talvez estejamos errando perguntas, não apenas buscando respostas.

Juventudes, inclusão e inovação

Não há futuro sem juventude — e essa foi uma mensagem recorrente.

Jovens sentem-se sem voz no mundo tradicional, e querem:

  • participar das decisões, não apenas ser ouvidos
  • ver o impacto real de sua contribuição
  • aprender com adultos, mas também ensinar
  • cocriar políticas públicas, empresas e soluções sociais

Há um gap geracional claro e crescente. Conectar foresight, futures literacy e juventudes tornou-se imperativo. A pergunta crítica: estamos criando espaço real para que jovens liderem o futuro?

Economia do bem-estar e descolonização dos futuros

Economistas e pensadores sociais desafiaram os paradigmas tradicionais de desenvolvimento. O futuro não pode repetir a lógica industrial de “produzir mais, consumir mais, crescer mais”.

As novas bases incluem:

  • bem-estar populacional
  • liberdade comunitária
  • modelos distribuídos
  • ruptura com conceitos colonizadores
  • abertura para que comunidades definam suas formas de vida
  • desindustrialização da imaginação
  • reconhecimento de que o futuro é domínio de poder — e que muitos não têm acesso a ele

A grande questão: qual é o nosso território comum como espécie?

Um futuro aberto

Nada de feminino ou masculino, preto ou branco, sul ou norte, leste ou oeste dominando. Nem apenas sobre Inteligência Artificial, a queridinha do momento. O Dubai Future Fórum reafirmou que o futuro não é sobre máquinas — é sobre nós e tudo em equilíbrio no planeta.

Sobre como pensamos. Sobre como sentimos. Sobre como nos relacionamos com cidades, culturas, ecossistemas e o cosmos. Sobre como incluímos jovens, comunidades e novas perspectivas. Sobre como exercemos o poder de imaginar.

O caminho não é substituir humanos por IA, mas expandir humanidade através da IA. Não é industrializar o futuro, mas libertá-lo de motivações progressistas apenas econômicas. Não é mais sobre evitar riscos, mas cultivar possibilidades.

O futuro emerge de escolhas, que emergem de consciência. O maior investimento do século não é tecnológico, é na ressignificação do que é ser humano no Século 21 e além.

W Futurismo, tendo certeza de que estamos entre a elite de Futures Studies e Foresight do mundo, e que no Brasil, uma excelente trabalho já vem sendo feito por muita gente.

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