Brasil, linear ou exponencial?

por | out 1, 2017 | Sem categoria

Vamos continuar falando de crise ou vamos reconstruir o país?

Jaqueline Weigel

Enquanto um restrito grupo de brasileiros tem acesso a ecossistemas globais de inovação, a maioria luta pela sobrevivência, pelo fim da corrupção ou tenta absorver as rápidas mudanças do mundo. Muita gente partiu do Brasil, mas é esta mesmo a solução?

Pós Singularity University Global Summit, onde estive com um dos mais influentes grupos de empreendedorismo social do planeta, tenho cada vez mais certeza de que estamos evoluindo como humanidade, e que a mudança do mundo já é muito maior do que imaginamos.

Há um grande chamado por trás da era digital: evoluir como raça humana e através da tecnologia criar novas soluções para os problemas do planeta. Os negócios digitais são criados em torno de um propósito massivo e em torno da tecnologia, e contam com uma poderosa rede de  sustentação que tornou o empreendedorismo disruptivo algo único no mundo. Conheci na SU pessoas incríveis, genuinamente preocupadas em criar soluções para nossos problemas sociais. O mindset é exponencial e o tempo todo o convite está ligado a melhorar o mundo e ressignificar nossa existência. Polêmicos ou não, grupos assim desafiam o mundo e nos enchem de coragem para mudar o foco do medíocre módulo de sobrevivência para pensar maior, pensar com ousadia, desafiar os modelos tradicionais e o status quo.

As pessoas que já viraram a chave do modelo “analógico” para o digital estão em níveis de consciência ampliados. Provocam o mundo na busca de propósito, de união, de colaboração. Gastam seu tempo construindo, agindo, agregando ideias, valores e pessoas ao movimento de transformação.  Sei que o despertar, o aprender e a evolução são processos individuais, mas se você está lendo este artigo já deve ter sido cutucado pelo pensamento de que algo muito diferente do que conhecemos está acontecendo no mundo.

Com tanta novidade, novos  dogmas  vem surgindo, e um deles é o do culto exagerado ao Vale do Silício que não é o centro do mundo, mas concentra um número de pessoas e projetos significativos do mundo atual. As pessoas de lá são mesmo diferentes e o chamado para o trabalho é desafiador. É um lugar admirável, contagiante, inspirador…um portal de encontro das pessoas que querem realmente fazer algo grandioso pelo planeta.

Quando buscamos respostas que fazem sentido ou encontramos causas que nos encantam, corremos o perigo de fazer com que isto vire nossa verdade absoluta, e de achar que a vida se divide entre quem está na verdade descoberta e quem não está. É assim com religião, com esporte, com política e não seria diferente com o futurismo. Gosto muito dos alertas do futurista Tiago Mattos, que nos lembra que a riqueza está na soma de olhares diferentes e na co-criação. Não existe um caminho único, uma pessoa que seja detentora do conhecimento ou um único grupo que está no controle desta missão. Todos fazemos parte desta casa chamada Terra e todos estamos convidados a entrar neste movimento profundo de renascimento cultural.

O movimento é de inclusão e a maioria dos ecossistemas de inovação o fazem muito bem. Outros, um pouco mais agressivos, provocam nos novatos uma  sensação constrangedora, de quem está muito por fora, atrasado ou deslocado no progresso do mundo. Já ouvi declarações de que não há como mudar o modelo mental sem ir a ao Vale do Silício. Não caia nesta cilada, há muita gente surfando esta onda e faturando alto com a curiosidade e a ignorância coletiva.

“Não se sinta excluído deste movimento. O mundo precisa de todos nós. “

A cultura do novo mundo precisa de gente com um novo tipo de modelo mental, com coragem, com estrutura emocional para lidar com a complexidade e com a ambiguidade. O chamado é mundial e a transformação convida todos nós a trabalharmos juntos pelo planeta, a pensar grande, a tomar os problemas do mundo nas mãos para desafiar as barreiras que limitaram nosso crescimento até agora. Fomos moldados a pensar e viver de forma linear ( 1,2,3,4…) e agora a fórmula é exponencial ( 2,4,8,16…saltos quânticos) . A convergência das tecnologias acelerou o processo e fez cair as barreiras do impossível. Projetos incríveis estão propondo soluções para problemas que até então eram decretados como impossíveis de resolver.

O pensamento exponencial exige coragem e pensamento disruptivo. É doloroso mudar a forma de pensar tradicional. O gasto de energia é imenso, mas a recompensa valiosa. Um novo campo se abre em nossa mente, passamos a ver o que até então só os olhos da alma sabiam.

Não há como adiar ou recuar, mas há um sistema fortíssimo criando resistência: os países ricos, os detentores do poder atual, os capitalistas e muitos influenciadores que tiraram vantagem do jeito padrão de viver e conduzir negócios. Não acredito muito em transformação e sim em novos recomeços. O Fusca pode se tornar um New Beetle, mas jamais será um Tesla, porque o princípio é diferente.

No Brasil, vivemos muitos dilemas. Nossa cultura além de diversificada é contaminada por aspectos que nos tornam totalmente lineares. No entanto, a delegação brasileira foi a maior do SU Global Summit e um projeto brasileiro venceu a categoria startup da classe prosperidade. Podemos mergulhar neste movimento! E devemos fazê-lo imediatamente!

É um longo  caminho. Seguem algumas dicas para que você comece a se tornar alguém exponencial:

  • Não aceite a vida como ela é, conteste, confronte, desafie as coisas e o status quo;
  • Olhe atentamente a seu redor e entenda as dores da sociedade: o que não funciona tão bem assim e qual poderia ser uma solução? Envolva-se!
  • Crie desafios para sua forma de pensamento: brinque com o “e se”: e se o Brasil não tivesse corrupção? E se a Inteligência Artificial nos libertar de trabalhos chatos? E se esta revolução trouxer mais empregos? Tenha ideias e transforme0as em projetos.

Mudar modelo mental é um exercício intenso e o começo da mudança. Fico feliz quando vejo tanta gente se mobilizando em torno do novo, mas preocupada com a mania brasileira de tratar assuntos com pouca profundidade. Aqui no Brasil, Edgar Morya confronta a medicina mostrando que pessoas com paralisia total talvez possam voltar a andar. É um novo modelo de brasileiro. Somos muito capazes, só estamos exaustos com este tsunami de corrupção e crise que colocou este manto escuro sobre a terra verde e amarela. Quero ir para o exterior aprender, trocar, mas não acredito que todos tenhamos que ir para o Vale do Silício ou para as universidades futuristas para acompanhar o mundo. Gostaria que meu país liderasse a mudança do mundo com os demais países e para isso, precisamos resgatar nossos valores, redesenhar nossa cultura, criar o pensamento exponencial coletivo, a cultura da inovação e despertar a força coletiva de mudança, a mesma que foi às ruas protestar contra o governo corrupto.

Estamos em tempo de despertar, de ampliar a visão e de acelerar o ritmo para que possamos representar muito bem a capacidade do brasileiro mundo a fora. Não quero fugir do Brasil, quero reconstruí-lo com a ajuda de todos os brasileiros que acreditam que temos capacidade de antes de tudo, de construir um Brasil de valores.

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