Grupo W Foresight Brasil, por Cassiana Buosi
Depressão é a doença da insatisfação e inclusive, com consequências socioeconômicas importantes. O índice dela no mundo é hoje a 3ª maior doença da humanidade. Não à toa, é considerada a doença do século. Na América Latina, o Brasil lidera a lista com a maior fatia da população atingida por ela. Só está atrás de doenças cardíacas e do câncer. Que em partes, também adoecem as pessoas por diversas insatisfações, por vezes consequências da própria depressão. E a alta liderança, de qualquer tipo de empresa e porte, tem sofrido cada vez mais com ela.
Parte do problema está diretamente atrelado ao nosso atual contexto sociocultural e seu consumo desenfreado – que requer de nós a geração de receitas individuais suficientes consumir tudo o que desejamos. Seria um desejo individual e genuíno de cada um de nós ou talvez apenas um reflexo de nosso sistema sociocultural do presente?
Como as marcas e os líderes estão reagindo a estas questões sistêmicas?
Se parte da preocupação é em relação à economia – o que me parece ser uma preocupação legítima – porque não aproveitar este momento exatamente para repensá-la?
Hoje temos outras opções econômicas em pauta, como por exemplo, a economia donut, proposta por Kate Raworth, economista britânica e a qual a cidade de Amsterdã já decidiu colocar em prática. Temos a economia circular, o capitalismo consciente, entre tantas outras novas alternativas em debate mundo afora.
Quando a alta liderança não se dá conta de compreender verdadeiramente o que está acontecendo no mundo, ela talvez esteja sofrendo uma espécie de síndrome de Estocolmo, aquela em que a vítima se relaciona bem com os seus agentes sequestrador.
Vamos imaginar que o sequestrador, neste caso, seja o sistema capitalista vigente e ainda dominante. Nesta síndrome, a identificação emocional é um sintoma, um modo de defesa por medo de retaliação.
A Síndrome de Estocolmo e o comportamento da grande maioria dos líderes brasileiros
A síndrome foi definida por Nils Bejerot, psicólogo e criminólogo que assessorou a polícia sueca em um caso no qual nasceu a origem do termo.
Considerando que os raptados nesta minha analogia são lideranças de alto escalão, seja nas organizações privadas ou nas públicas, o mecanismo de defesa se dá pelo medo da escassez. Portanto, vítimas aqui se tornam até um pouco cúmplices, uma vez que se sentindo ameaçadas e com domínio de raciocínio e inspiração comprometidos, não enxergam outros caminhos que não os defendidos pelos próprios sequestradores, o sistema capitalista.
Qualquer gesto solícito por parte “deles” é exacerbado pelas vítimas, já que é quase impossível em meio à confusão ter clareza da realidade e também mensurar o risco real ao qual somos todos “vítimas”. Então, tentativas de libertação passam a ser compreendidas como uma espécie de ameaça a própria espécie, onde as vítimas correm sérios riscos emocionais e de status, provenientes da diminuição de suas próprias rendas. Em outras palavras, se ficar o bicho come, se correr o bicho pega.
Segundo estudos de Nils Bejerot, os sintomas são uma consequência de um estresse físico, emocional e mental extremos, portanto uma relação de amor e ódio dos raptados para com os sequestradores é desenvolvida. Uma espécie de estratégia de sobrevivência por parte dos reféns. E a proximidade afetiva com os criminosos acontece de forma inconsciente, como uma defesa natural do cérebro para se isolar de uma realidade perigosa e violenta que o ameaça. Neste caso, o ponto em comum entre as partes está diretamente relacionado ao amor pelo dinheiro.
Contudo, os reféns, por mais que não reconheçam em si este comportamento, não estão totalmente alheios á situação a qual se encontram, tanto que continuam bolando planos sobre como se libertarem, fugirem do cativeiro, atentos a este risco também. Uma pena que no caso de muitas lideranças, me parece que contemplam em seus planos se libertarem apenas de sua prisão forçada, seu cativeiro – a pandemia global e seus reflexos. Não percebem que ao sair da cela, ainda estarão dentro de um presídio. Regido por leis bem conhecidas entre todos que ali se encontram, independente de em qual papel estão.
Lideranças e empresas inspiradoras atuais se destacam por terem abandonado este modo comando e controle
A síndrome se desenvolve em pessoas que passam por situações de riscos e/ou forte confinamento, não apenas em casos de sequestro. Guerras, como a biológica que estamos vivenciando em 2020 por conta do Covid-19, e sobreviventes de campo de concentração são alguns exemplos. Neste contexto atual, o que talvez leve grandes lideranças a agirem como se tivessem sofrendo a síndrome de estocolmo? Uma hipótese pode ser uma relação direta com a necessidade que temos de comandar e controlar, por mais que alguns refutem esta hipótese. Tanto é assim, que algumas empresas de grande porte já estão discutindo com seus funcionários e colaboradores esquemas para que “voltem” aos escritórios, já que num sistema homeoffice, parece que está tudo fora de controle.
“Em um sistema homeoffice, parece que está tudo fora de controle – aos olhos de quem não tinha se preparado para esta nova forma de trabalho.”
O que estas empresas e lideranças verdadeiramente fazem questão de não compreender é que hoje vivemos em um mundo complexo, onde comando e controle nos levam cada vez mais para o caos. E no caos, apenas alguns poucos sobreviverão. Darwin já dizia que os sobreviventes tendem a não ser os mais fortes e nem os mais inteligentes. Mas sim, os mais adaptáveis. Então, fica a dica.
Segundo Humberto Maturana, filósofo e biólogo chileno reconhecido mundialmente pela sua abordagem ontológica sobre o Ser Humano, são nossas emoções (desejos, preferências, medos, ambições…) – e não a razão – que determinam, a cada momento, o que fazemos ou deixamos de fazer. Cada vez que afirmamos que nossa conduta é racional, os argumentos que esgrimimos nesta afirmação ocultam os fundamentos emocionais em que ela se apoia, assim como aqueles a partir dos quais surge nosso suposto comportamento racional.
“…Cada vez que afirmamos que nossa conduta é racional, os argumentos que esgrimimos nesta afirmação ocultam os fundamentos emocionais em que ela se apóia…” – Humberto Maturana
E você, acredita que talvez tenha sido sequestrado e anda reforçando seus vínculos afetivos e emocionais com os sequestradores? Se sim, está tudo bem, o primeiro passo é aceitar, enxergar. Se rápido, ainda está em tempo de juntos revertermos este quadro. Pelo bem da humanidade e sim, da economia também. Que tem a melhor chance histórica dos últimos tempos de ser regenerada. E precisamos de mais líderes neste movimento da regeneração. De que lado você quer estar e contar a história, em 2030?
O desenrolar do que acontece em um contexto onde reconhecemos a Síndrome de Estocolmo, desenvolvido neste artigo, teve como inspiração este artigo publicado sobre a síndrome no portal da Info Escola.
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