Na minha infância, viajar era coisa de gente bacana. Continua sendo, só que o número de bacanas aumentou. A possibilidade de peregrinar pelo planeta ficou acessível a todas as pessoas. Faço um plano de viagens com lugares que desejo conhecer nos próximos dez anos. Tem dado certo, mas o Japão não estava na lista e aqui estou.
Desde que cheguei a trabalho, percebo uma vontade legítima dos japoneses em acolher e ajudar o turista ou o visitante. Mesmo quando o inglês é básico eles se superam. Tu passons ( two person ) , klin ol lum ( clean your room ) se misturam ao Arigatōgozaimashita e Dōitashimashite, que significam obrigado formal e de nada.
Tóquio, frenética, mas organizada. Muita gente, muito movimento, e ao mesmo tempo, ordem e equilíbrio. As pessoas circulam educadamente, usam o metro, trabalham e vivem de acordo com suas possibilidades. No Japão, o imperador é uma figura de tradição apenas sustentado pelo povo através dos impostos. Na terra de antigos shoguns, um sistema organizado funciona. É uma ilha pequena de certa forma, mas muito evoluída. Tudo é pensado em detalhes, das máquinas de moedas, até as vending machines espalhadas pela cidade, o ônibus, o degrau de idosos, e assim por diante. As religiões xintoísta e budista predominam. Shrine (santuário) é xintoísta e não fecha nunca. Templos são budistas e funcionam em média das 9h às 16h, com acesso restrito. Muitas pessoas passam nos templos para uma breve oração e reverência. É fácil se locomover usando o metro. Dos passeios, recomendo Sky Tower a 350 metros com uma vista linda. Guinza bairro urbano, Akihabara para eletrônicos, Shimbuya e rua Ometosando para comidas e um passeio pela rua elegante. Há também pobreza na cidade. Vi fila de pessoas recebendo comida e dormindo em parques.
Para ir ao sul, em direção de Hiroshima, o Shinkanzen, famoso trem bala, é confortável e acessível. Em Kyoto, o encontro com a essência do Japão. Tradição e cultura em todas as partes. Terra imperial, de shoguns e samurais, princesas e imperadores. Mulheres em quimonos, motoristas de luva e uniforme suntuoso, lojas elegantes e típicas. Tudo em um clima de tranquilidade. Os idosos trabalham, especialmente servindo de apoio ao público e no comércio. A cerimônia do chá é levada a sério. Muitos templos pela cidade. Os mais impressionantes são Kinkakuji e Kyiomizudera. Gion é uma área charmosa, com bares, lojas, passeios e templos. Nishikki é o mercado público. A movimentação é por ônibus, de fácil acesso.
O jeito do japonês é único. Esbeltos, conservados, usam roupas confortáveis e andam de bicicleta. Fazem exercício pela manhã e são dedicados ao trabalho. É possível perceber que honram o que fazem. As crianças são muito educadas, os adolescentes brincalhões mas discretos. Nos locais públicos, falam baixo, locomovem-se com elegância e cuidado. Jamais se atiram em cima de alguém ou empurram, mesmo que estejam atrasados, nem atravessam a rua se o sinal não abrir. Os homens na capital alinhadíssimos, usam muito preto. Mulheres elegantes, com chapéu, roupas básicas, cabelo e pele bem cuidadas e discrição na forma de se vestir.
O que podemos aprender? Tudo. Primeiro a sermos educados em público, mais calmos no dia a dia, mais organizados em nossas vidas. No trabalho, a pensar em como podemos gerar um bem maior ao todo não só a nós mesmos. Planejar a longo prazo, vivenciar valores, construir empresas que serão citadas na história da humanidade como modelos, fazer pesquisa, investir, calcular retorno, inovar e se reinventar o tempo todo.
Saio daqui com mais esta experiência na bagagem, mas certa de que não sou mais a mesma. Atravessar o planeta é uma aventura. É a segunda vez que o faço. Experimentar por duas semanas em uma cultura tão singular me mostra que as fronteiras do mundo estão em nosso imaginário. Hoje parto para Myajima, a ilha sagrada do Japão, onde segundo eles moram os santos do país. Serão dois dias de retiro antes de voltar para casa, de onde já sinto muita saudade.